Professor defende tese de que programas de televisão podem ajudar alunos em aulas de história. Segundo ele, até telejornais atuais servem como material de ensino.
Quando William Bonner e Fátima Bernardes dão "boa-noite", fechando a edição de mais um Jornal Nacional, talvez nem eles imaginem que estão fazendo história. E que no dia anterior também fizeram história. No dia seguinte não será diferente. Pois o imediatismo da televisão, o dia a dia das notícias e das imagens, acabam tirando o caráter documental do registro. Com o tempo, a condição é outra. Quando vemos imagens do Cid Moreira, no mesmo Jornal Nacional, homenageando Carlos Drummond de Andrade no dia de sua morte, a tela ganha ares de documento do passado.
Séries, programas e telejornais poderiam ser usados de forma mais eficiente em sala de aula
Foi sob a aposta de que a TV pode ajudar os alunos nas aulas de história que o jornalista, professor e historiador André Chaves de Melo Silva preparou sua tese de doutorado. Apresentada em março na Faculdade de Educação da USP, 'Imagens televisivas e ensino de história: representações sociais e conhecimento histórico' defende que séries, programas, telejornais e qualquer outro produto televisivo poderiam ser usados de forma mais eficiente em sala de aula. Para isso, contudo, seria necessário método.
– O professor tem de pensar e desmistificar a questão da televisão como sendo algo ruim; deve trabalhar os elementos reais e separar aquilo que faz parte da ficção – diz André, em entrevista por telefone.
Minissérie da Globo serviu como base da pesquisa
Em seus estudos, ele juntou duas turmas do ensino médio de uma escola estadual paulista e, por meio da minissérie A muralha, exibida em 2000 pela Rede Globo, testou métodos de ensino e o conhecimento dos alunos. Primeiro aplicou um questionário em que tentava descobrir o que os estudantes já sabiam sobre os bandeirantes (tema central da minissérie), depois mostrou trechos da obra televisiva aos adolescentes e, por fim, identificou as mudanças que a exibição provocou nos alunos
"O professor deve trabalhar os elementos reais e separar aquilo que faz parte da ficção"
Muitos, por exemplo, compreenderam que os bandeirantes não eram apenas heróis desbravadores; para realizar a façanha de conquistar o interior do país, eles mataram, aprisionaram e escravizaram milhares de índios. Uma mudança de visão considerável sobre o período colonial brasileiro, absorvida pelos estudantes sobretudo depois da exibição da minissérie. Aliás, André tem visão clara quanto ao ensino dessa passagem histórica do país.
– Houve confusão entre o período colonial e o da independência. A pesquisa constatou isso. E isso é importante, pois o período colonial explica muito o modo como se formou a base das nossas raízes. Não podemos desprezá-lo – conta o historiador, e reitera. – Dá para entender melhor elementos do nosso cotidiano por meio desse período. O patriarcalismo. O clientelismo. E, claro, o nosso homem cordial. É uma forma de apreender o passado, o presente e até o futuro.
Aos 34 anos, André vê a televisão como um objeto muito mais presente na vida dos estudantes do que o computador. Afirma que, apesar do tanto que se fala da internet, é ainda o velho eletrodoméstico quem domina os lares do país. E é partindo das imagens da televisão que, em suas palavras, "a maioria dos alunos terá sua curiosidade estimulada, buscando inclusive novas leituras textuais – um grande desafio para os tempos atuais".
Fonte: Ciência hoje
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